Mirante na trilha da pedra branca

Pico da Pedra Branca (6 º dia da Transcarioca)

Se você leu meu relato sobre o quinto dia da Transcarioca, deve se lembrar que acabei não visitando o Pico da Pedra Branca conforme o recomendado pelo roteiro oficial, pelo risco que a noite teria de me surpreender em plena mata se desse uma esticada até lá.

 

O quinto dia foi reservado para conhecer alguns belos mirantes como o do Capim Melado e do Alto do Mangalarga, localizados na longa Travessia Rio da Prata – Pau da Fome.

 

Para visitar o Pico da Pedra Branca  neste dia, o excursionista terá que perder pelo menos duas longas para percorrer o longo e cansativo ramal que conduz até o pico, deixando a travessia mais longa e desgastante ainda.

 

Já era um pouco tarde quando alcancei o início deste ramal e se fizesse o desvio, a noite me surpreenderia na certa, além de que não tinha certeza se poderia passar pelo portão do parque no Pau da Fome após o horário de fechamento (às 17 hrs.)

 

Por isso segui adiante na travessia.

 

Mas não poderia de vistar justamente o ponto culminante de toda a Transcarioca e do Município do Rio de Janeiro!

 

Então tratei de emendar esta visita ao percurso do 6º trecho.

 

Como fazer isso é que seria um problema.

 

Vindo da sede do Pau da Fome a subida até o pico da Pedra Branca consome por volta de umas quatro horas. Se levarmos em conta  a descida do pico até a casa  amarela, que é o ponto de início do 6 º trecho, perderia umas cinco horas só neste desvio.

 

Foi aí que consultando uns mapas meus, vi que partindo do Rio da Prata havia um caminho bem mais curto para o pico.  Não conhecia o caminho ou tinha um mapa mais detalhado do local, nem sequer um tracklog que pudesse me orientar melhor, mas resolvi arriscar na descoberta deste caminho.

 

E fui bem sucedido como relato em detalhes nas linhas que se seguem.

 

Nível de Dificuldade: Difícil.

Travessia bem trash na verdade.  Além de subir o pico mais alto do município, você percorre uma travessia de 18 Km. passando por vários trecho de mata fechada.  Não é mole não!

 

 

Atrações.

O grande atrativo sem dúvida é a conquista do Pico da Pedra Branca.   Mas para ser sincero, eu diria que a única satisfação desta subida é de justamente conquistar o ponto mais alto do Município e só.

 

Ao contrário de outras grandes montanhas da cidade, do pico da Pedra Branca não se vê muita coisa.  Há alguns anos atrás a situação era pior ainda, pois você chegava lá em cima depois  de todo aquele esforço e … simplesmente não via rigorosamente nada!

 

Ou melhor, apenas a rombuda pedra que dá nome à todo o parque e que era muito difícil de ser galgada.

 

A decepção foi enorme quando a conquistei pela primeira vez anos atrás.

 

Agora você encontra uma escada improvisada feita com bambus ocos e que permite a subida da pedra, permitindo assim umas visões entrecortadas de Bangu, Campo Grande e de parte da zona norte do Rio.

 

Pico da Pedra Branca

Mas não é nada que justifique a longa e interminável subida até lá.

 

Por sinal, se você tiver um conhecido ou parente muito chato que insiste há muito tempo em fazer trilha com você, taí uma excelente excursão para fazer com ele.     Aposto que depois deste passeio, ele nunca mais vai querer caminhar contigo!

 

Mas brincadeiras à parte e  tirando o panorama decepcionante da pedra, foi  gratificante fazer esta desafiante travessia, que ofereceu uma série de obstáculos até a sua conclusão.

 

Como chegar.

O início deste trecho coincide com o do trecho 5, portanto volte até aquele artigo e siga todos os passos para se chegar até o início da trilha.

 

Você voltará a atravessar a bucólica zona rural de Campo Grande com seus simpáticos sítios e plantações.

 

O caminho diverge logo após a Cachoeira do Engenho, se lembra?

Cachoeira do Engenho

Voltamos aqui àquela bifurcação de duas estradas que partiam do mesmo ponto e que poderia gerar dúvidas em relação à qual opção seria a correta.

 

Falei que a opção da esquerda cortaria um bom caminho ao custo de evitar a passagem por belos mirantes, se lembra?

 

Pois é, dessa vez vamos seguir pela esquerda mesmo e pegar um atalho até o pico.

 

Em busca do atalho para o Pico da Pedra Branca

Logo no início dessa estrada, que a partir de agora volta a se alargar, temos outra bifurcação. Dessa vez subimos pela direita.

 

Subindo mais 400 metros, iremos passar por uma porteira rústica. Não entre aí! Continue subindo fazendo a curva à direita, que logo logo você irá se deparar com um muro de pedra que acompanha a estrada.

 

Nos finais de semana esta estrada é frequentada por adeptos do motocross.  Portanto fique atento à sua passagem!

 

A estradinha continua subindo bem íngreme e cerca de 100 metros adiante do muro de pedra nos deparamos com um belo panorama de Campo Grande.

Vista de Campo Grande

Fique muito atento a partir de agora!

 

A estrada vai subir agora cerca de 400 metros por uma área descampada até que vai surgir à sua esquerda uma trilha meio mascarada pelo matagal.  Ela toma a direção de uma área mais descampada ainda.

 

Para chegar mais rápido ao Pico da Pedra Branca, siga por aí por um caminho bem mais fechado do que a estrada pela qual subiu.

 

Passamos por entra alguns sítios incrivelmente distantes da civilização e logo a mata fica mais fechada ainda.

 

Reconheço que essa é uma parte de difícil orientação, mas ela dura pouco tempo.

 

Logo a trilha volta a ficar um pouco mais definida e adentra uma área mais selvagem de mata atlântica.

 

É um  caminho que certamente é bem pouco utilizado, estreito, sem qualquer sinalização, mas ainda assim com um traçado bem definido.

Subida para a Pedra Branca

Subi cerca de 500 metros em meio à uma insegurança se estava no caminho certo ou não, mas confiando no GPS que indicava que estava indo na direção certa!

 

No final desta subida me deparei com uma bifurcação. Optei pela direita, pois a da esquerda descia. Fiz a escolha certa, conforme foi demonstrado logo depois quando me deparei com mais uma, e nesta constava pintada no tronco as iniciais PB acompanhada de uma seta!  UFA!  Eu estava no caminho certo e meu plano de encurtar o caminho até o Pico da Pedra Branca tinha dado certo!

sinalização

Mais aliviado e seguro continuei acompanhando esta rústica sinalização até o final.

 

Passei por uns caquizeiros e logo depois por uma bifurcação em que estranhamente não encontrei sinalização nenhuma.  Conforme constataria mais tarde, as duas opções são válidas, mas para você que está acompanhando as minhas orientações, sugiro que opte pela esquerda.

 

Duzentos metros acima desta bifurcação, faça uma curva acentuada para a direita, sempre seguindo a rústica sinalização.  Pronto! Bastam mais 200 metros de subida para chegarmos à placa do parque que sinaliza a trilha do ataque final para o cume!

Placa de sinalização

Da placa até o ponto mais alto do Município do Rio, temos mais 1 Km de uma  subida relativamente suave.

 

O alto do Pico da Pedra Branca é bem amplo e coberto por uma densa vegetação, o que impede um panorama abrangente que deveria fazer jus à tão árdua caminhada.

 

Nos deparamos com uma rombuda pedra que dá nome ao pico e à todo o parque envolta.  Por sinal, é justamente esta pedra que garante o título de montanha mais alta à pedra Branca.  Ela deve ter uns 3 ou 4 metros de altura que garantem o desempate com o Pico da Tijuca.

 

É necessário galgá-la para desfrutarmos de alguma visão.

Hoje em dia, ao lado da pedra há uma escada improvisada feita de bambus, o que permite o fácil acesso ao seu topo, mas nem sempre foi assim.   Há alguns anos quando a visitei pela primeira vez, não era possível subir a pedra sem correr riscos, e ficou um forte sabor de decepção naquela conquista.

 

Mas hoje podemos desfrutar de algumas visões entrecortadas pela mata de Campo Grande, Bangu, zona norte e Recreio dos Bandeirantes.   Ainda é possível encontrar um marco e uma bandeira fincada no alto da Pedra.

Ainda tinha muito à percorrer naquele dia, e portanto depois de uma breve pausa para o descanso, fazer um lanche e tirar fotos me levantei para percorrer o longo trajeto até a Casa Amarela e dar início à parte do 6º trecho ainda naquele dia.

 

Descendo até a casa amarela.

Chegando à placa de sinalização, vamos seguir agora na direção contrária de onde subimos, virando à esquerda. Logo, logo chegamos à outra bifurcação.  Siga à esquerda de novo, pois o caminho da direita conduz novamente à trilha por onde subimos desde Campo Grande.

 

Depois de apenas 300 metros de descida chegamos à um belo mirante que seria mais apropriado encontrar no alto do pico.   É um visual muito parecido com o alto do Mangalarga, abrangendo o Recreio dos Bandeirantes e as serras ao redor.

Mas não nos detenhamos muito nesta vista. Temos muito caminho pela frente e já está um pouco tarde com grandes chances da noite nos surpreender pelo caminho.   (fica a dica, comece a caminhar bem cedo neste dia!)

 

Depois de 400 metros de uma descida bem suave, chegamos à um rio onde é possível fazer o reabastecimento de água.   Se perde esta oportunidade, não se preocupe, pois teremos outro riacho 500 metros à frente deste.

Pico da Pedra Branca descida

Passado este riacho, a descida pouco a pouco vai ficando mais acentuada.  No meio desta descida reencontramos com o 5º trecho da Transcarioca, que parte rumo ao alto do Mangalarga e o Rio da Prata à direita.  Continuamos descendo à esquerda, até atingirmos em breve um trecho com um calçamento em pé-de-moleque bem degradado pelo tempo.

 

São mais ou menos 600 metros deste a última bifurcação até a famosa casa amarela, que é um ponto de referência para todos os caminhantes do parque da pedra branca, já que várias trilhas se irradiam dela.

 

Casa Amarela

Sede de uma fazenda no passado, hoje ela serve de depósito de ferramentas para os agricultores locais.

 

E foi justamente uma matilha nada amistosa de um desses agricultores, que me causou problemas neste dia.

 

Estava circundando a casa quando esses cães perceberam a minha presença e me cercaram latindo ferozmente. Como não reagi, eles não me morderam, mas a confusão foi o suficiente para que eu errasse o caminho.

 

Tive que voltar para a casa, e o pior de tudo é que a trilha certa indicada por uma placa da Transcarioca, começa depois da cerca, sendo necessário levantar a estaca para prosseguir a caminhada.

 

Mas ao fazer isto chamei a atenção novamente dos cães que partiram furiosos na minha direção.

 

Fugi para a trilha errada e esperei que eles atendessem ao chamado do dono ao longe.

 

Dei um tempo e esperei a hora certa para voltar.

Desta vez levantei a estaca com todo o cuidado e silêncio, conseguindo atravessar para o caminho correto!  Ufa!!!

 

Prometi, que encontrando o que fosse pelo caminho, não iria mais voltar por ali!

As tentações para se mudar de idéia, como vocês verão no relato adiante, foram fortes, mas prosegui até o fim.

 

Sexto trecho da Transcarioca( Em busca do vale do Sacarrão.)

Só aqui que começamos a caminhar pelo sexto trecho da Transcarioca propriamente dito, que começa na Casa Amarela e termina no Pau-da-Fome, passando por atrações como o Açude do Camorim e a Pedra do Quilombo.

 

Mas eu em particular acho esta divisão um pouco longa, achando o aconselhável que o excursionista faça como eu fiz e a divida em dois trechos.

 

Os primeiros 400 metros deste trecho são feitos numa trilha bem demarcada e bem sinalizada até encontrarmos uma espécie de trifurcação, onde deve se optar pela opção mais à direita.  Logo depois chegamos num ponto em que podemos vislumbrar a cadeia de morros do parque.

 

Maciço da Pedra Branca

Andando cerca de 150 metros iremos chegar à uma outra bifurcação, desta vez mais crítica.  A transcarioca desta vez segue pela trilha mais fechada e menos óbvia da esquerda.   A vegetação fica bem mais cerrada a partir deste ponto, e o facão que levava comigo começou a trabalhar forte.

 

O ritmo da caminhada ficava cada vez mais lento, pois além da mata fechada, a subida ficava mais íngreme.  Em compensação, o Sol parecia acelerar a sua trajetória rumo ao poente, enquanto havia muito ainda a percorrer pela frente num caminho completamente desconhecido.

 

A situação era crítica mas resolvi continuar.

A trilha continua pela mata fechada contornando o Morro de Santa Bárbara.

 

Contorno do Morro de Santa Bárbara

 

Um bom sinal de que se está no caminho certo é que cerca de 200 metros além da última bifurcação, aparece uma pedra bem no meio do caminho com o desenho da bota da Transcarioca.

pedra

 

A trilha sobe mais 500 metros em meio à densa mata até atingir o ponto mais alto deste trecho onde há destroços de uma espécie de acampamento destruído. Logo após há outra bifurcação onde deve se optar pela esquerda, ponto a partir do qual o caminho começa a descer suavemente por 600 metros.

Acampamento destruído

A partir daí a trilha dá uma guinada muito acentuada à esquerda e a descida fica bem mais acentuada, ao mesmo tempo em que o traçado fica um pouco mais definido.

 

Ainda era em tempo, pois a tarde avançava rapidamente e precisava acelerar minha caminhada para que pelo menos alcançasse a estrada do Sacarrão antes do anoitecer.   Mesmo com lanterna, não seria nada prudente ser surpreendido pela noite em meio à uma trilha desconhecida em meio à mata fechada.

 

Apesar de ficar aberta, volta e meia nos deparamos com uma árvore caída neste segmento da trilha, prejudicando bastante a orientação.

 

Com 400 metros após a curva acentuada, cruzamos um rio cercado de bananeiras claramente deslocadas de seu habitat natural.

Bananal

Logo passamos por outra bifurcação, tendo desta vez por optar pela direita.  A seguir a trilha faz uma grande curva para a direita se encaminhando para o seu final.

 

Segue um longo trecho de mais ou menos 900 metros entremeados por alguns zigue-zagues até sairmos numa bifurcação.  Siga pela direita e breve irá finalmente chegar à estrada do Sacarrão que lhe conduzirá de volta à civilização!

Descida para o Vale do Sacarrão

Ufa! Tinha alcançado a estrada às 17:30 poucos minutos antes do anoitecer, praticamente terminando com sucesso esta grande e memorável aventura!

 

Teria de descer pela estrada de terra à direita até reencontrar a ainda distante civilização.

 

A trilha Transcarioca segue subindo à esquerda rumo ao Açude do Camorim, e esta aventura será tema do próximo post.

 

A partir de agora eu teria mais longos 4 km. de caminhada até sair na Estrada dos Bandeirantes e tomar um ônibus de volta para casa.

 

Não existe muito segredos em acertar este caminho, basta seguir sempre a estrada mais aberta que à princípio é de terra batida e depois passa a ser asfaltada e seguir o fluxo principal de carros e pessoas, que vai aumentando conforme se aproxima da Estrada dos Bandeirantes.

Sei que a postagem ficou muito grande, mas como a preocupação é de inserir o maior número de detalhes para aqueles que quiserem repetir em parte ou toda esta aventura, acho que o texto ficou proporcional à grandeza da peripécia.

 

Faça o Download deste track, clicando no link abaixo:

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4 thoughts to “Pico da Pedra Branca (6 º dia da Transcarioca)”

  1. Conheço cada cão que mora ali, e o senhor que também vive alí. O senhor é muito amistoso e adora um bom papo e boas pessoas, sempre acolhedor, oferecendo agua e banana aos trilheiros, e amigo de todos que fazem aquela trilha, basta se informar na sede ou com qualquer pessoa do local que saberá que é verdade. Quanto aos cães, esses não falam, só sabem latir, mas sempre no intuito de brincar. São muito amistosos. Tanto que vc não saiu mordido. Ou acha que corre mais que um cão?
    Então, é triste ver comentários como esse, apenas pra dar um ar de “grandes aventuras e emoções”, mas injusto e falso. Lamentável!
    Segue o texto que só me faz sentir pena do senhor:
    “E foi justamente uma matilha nada amistosa de um desses agricultores, que me causou problemas neste dia.
    Estava circundando a casa quando esses cães perceberam a minha presença e me cercaram latindo ferozmente. Como não reagi, eles não me morderam, mas a confusão foi o suficiente para que eu errasse o caminho.
    Tive que voltar para a casa, e o pior de tudo é que a trilha certa indicada por uma placa da Transcarioca, começa depois da cerca, sendo necessário levantar a estaca para prosseguir a caminhada.”

  2. Meu senhor, não escrevi tudo isso com a intenção de criar uma ficção e dar um ar de “grandes aventuras e emoções”. O propósito deste blog nem é este. Todos os relatos, incluindo este, são narrações objetivas do que efetivamente aconteceu comigo. Felizmente no decorrer dos mais de 200 Km. da Transcarioca, repletos de perigos muito maiores, este foi o único contratempo que tive.
    Tudo aconteceu conforme foi relatado, e só não fui mordido porque esquivei rapidamente meu braço do ataque de um dos cães. Inclusive tenho notícia de um conhecido que foi vítima de mordida por parte deles.
    Mas compreendo que pelo fato de o senhor ter uma certa intimidade com estes cachorros, tenha uma impressão totalmente diferente acerca deles.

  3. Ufa! Fiquei tonta com tanta informação, kkk
    Mas tem como chegar ao pico da pedra branca partindo da casa amarela?
    Até ela eu já fui e achei a trilha sem grau de dificuldade pra fazer, dá até pra correr nela, o problema é a atenção com a possibilidade das serpentes visto q o chão é coberto por folhas e gravetos, e tal
    Dali pra outras direções não tentei ir ainda mas quero ir ao pico da pedra saindo daqui do R.Prata, cortando a mata

  4. Sim, Márcia!
    A subida à Pedra Branca pela casa amarela é o percurso mais simples de se fazer, já que além das pegadas da Transcarioca, a trilha conta com placas de sinalização. Se for subir pelo Rio da Prata aconselho que não suba por este caminho que descrevi no artigo, pois tem trechos que não são sinalizados e são um pouco confusos de se orientar. Aconselho que siga o traçado oficial da Transcarioca, correspondente ao 5º trecho. A subida é um pouco mais demorada, mas marcas das pegadas estarão na trilha para te orientar, além de alguns painéis com mapas explicativos.

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