Visão do Pico Tijuca-Mirim

Pico da Tijuca, Tijuca-Mirim e Andaraí-Maior via Ciganos(11º dia da Trancarioca)

Enfim, vamos escrever mais uma página do diário da Transcarioca!

Deixamos o imenso Parque da Pedra Branca para trás! Assim que sai na Estrada do Catonho, a trilha deveria prosseguir atravessando a Rua Cândido Benício, subindo o Morro Inácio Dias, cruzando a Floresta da Covanca, subir a Serra dos Pretos Forros até sair na Estrada Grajaú- Jacarepaguá e de lá adentrar o Vale dos Ciganos.

Mas infelizmente, por sérios problemas de segurança, o Movimento Transcarioca não aconselha o trânsito pela Serra dos Pretos Forros, tanto que este trecho sequer foi sinalizado.

Não quer dizer que outros trechos do circuito não tenham problemas de segurança também, mas nesta região ele seria mais crítico ainda.

Torçamos então para que, quem sabe um dia, possamos transitar tranquilamente por estes morros, que devem proporcionar vistas em 360 º de tirar o fôlego da zona norte do Rio de um lado e da baixada de Jacarepaguá e Barra do outro.

Portanto depois de botar os pés na Estrada do Catonho, tive que dar um grande salto de 14,5 KM. e recomeçar a Transcarioca na Estrada Grajaú-Jacarepaguá.

Nível de Dificuldade: Difícil

Seguramente um dos trechos mais cansativos de todos, já que neste dia o excursionista atravessa um longo trecho em meio à floresta densa do Vale dos Ciganos, para depois subir à três dos picos mais altos do Parque (Andaraí-Maior – 861 mts. ;Tijuca-Mirim – 917 mts. e Tijuca – 1022 mts.)

Trecho 11 da Transcarioca

Atrações

Em compensação, considero este o trecho mais intenso e espetacular de todos!

Sou suspeito para falar,  já que participei do trabalho de sinalização deste trecho, mas você irá concordar comigo se eu disser que em poucas horas de caminhada, o excursionista se depara neste dia com a área mais preservada e selvagem de toda a Transcarioca, passa por pelo menos três belíssimas cachoeiras pouco conhecidas, por ruínas espetaculares de fazendas do século XIX e finaliza visitando três mirantes: (Picos Andaraí-Maior e Tijuca-Mirim e Pico da Tijuca) cada um com uma vista mais espetacular do que o outro.

Se não acredita, fique atento à descrição e às fotos que  seguirão!

Como chegar

Vá até a Estrada Grajaú-Jacarepaguá.  Existem várias linhas de ônibus que percorrem a estrada.

Salte em frente ao Hospital Cardoso Fontes.  Quase em frente ao hospital, existe a entrada do parque, que não costuma abrir muito cedo.    Caso encontre fechado, basta seguir a sinalização da botinha até encontrar uma entrada alternativa, cerca de 20 metros acima no sentido Grajaú.

Daí seguimos cerca de 600 metros em estrada bem larga e precariamente asfaltada até uma bifurcação onde optamos pela direita.

Bifurcação na estrada dos ciganos

Nesse momento, não podia esconder minha satisfação por retornar à Floresta onde adquiri o gosto pelas caminhadas em meio à natureza!     Depois de ficar seis meses afastado, explorando os recantos pouco conhecidos do Parque da Pedra Branca, enfim voltava ao meu quintal, que pelo que fiquei sabendo, tinha passado por profundas melhorias em matéria de sinalização.   Estava ansioso para ver estas mudanças!

Como estava muito familiarizado com o terreno, tomei a liberdade aqui de percorrer um trajeto muito diferente do oficial da Transcarioca e mais fiel ao do relato do livro “Todos os passos de um sonho” de autoria de Pedro da Cunha e Menezes, e que acabou inspirando a implantação do circuito.

Bem, voltando ao trajeto, após uma breve caminhada após a bifurcação, vamos passar por um belo conjunto de ruínas e por uma represa do lado direito da estrada.

Subindo mais 800 metros por esta estrada, vamos passar por um conjunto de represas datadas de 1906, que abasteciam boa parte da Cidade, mas que hoje só atende a demanda da região.

Represas de 1906

O banho nessas represas, por este motivo, é PROIBIDO, mas por falta de fiscalização, esta regra é constantemente violada, e durante o verão, as piscinas ficam tomadas pelos moradores de localidades próximas.

Mais um pouco chegamos na maior piscina de todas: da Represa dos Ciganos, que é o ponto de partida da trilha propriamente dita.

Represa dos Ciganos

Adentrando a selva dos Ciganos

A trilha em seu início vai acompanhando sempre o Rio dos Ciganos.  Tem um momento logo no início em que é preciso atravessá-lo e passar por cima de umas raízes e seixos.

O que impressiona logo  é a beleza e a densidade da mata, que é mais exuberante do que em outros pontos do parque.

Quatrocentos metros acima da Represa, nos deparamos com uma bifurcação, onde devemos optar pela direita.

Preparem seus trajes de banho, pois em breve vamos passar por uma sequência de belas cachoeiras, como a do Assento, dos Ciganos e do Ramalho.

Cachoeira do Ramalho

Antes de atingirmos esta última,  temos que atravessar um trecho escorregadio dentro do leito do rio.

Após a cachoeira do Ramalho, trocamos de margem e subimos mais um pouco até o encontro do Rio dos Ciganos com o Rio das Pacas.

Logo adiante surgirá outra bifurcação. Ignore a trilha que sai à esquerda e continue em frente.

Agora a trilha se afasta um pouco do rio e sobe vertiginosamente, ziguezagueando por 500 metros mais ou menos. De vez em quando, é possível escutar o barulho de uma cachoeira escondida ao longe.

Subida do Vale dos Ciganos

Terminamos este segmento no Lajeado, que é um afloramento rochoso, de onde partem várias trilhas. É um local ideal para descansar.

Lajeado

Ruínas da Fazenda Cantagalo

Eu poderia seguir em frente pela trilha que parte meio escondida do lajeado e segue acompanhando o rio, mas não poderia deixar de visitar as ruínas da fazenda Cantagalo.  Por isso, fiz um rápido bate-e-volta até elas.

Continuei seguindo a sinalização por mais 400 metros até a placa que indica as ruínas à direita.   Elas não tardam a aparecer, e nada mais inusitado do que encontrar aquele complexo tão grande de construções depois de caminhar por mais de uma hora dentro da mata fechada.

Restou muita coisa da casa principal, dos depósitos, tanques e moinhos da fazenda, que no século XIX, pertenceu aos Viscondes de Asseca e depois ao tribuno Ramalho Ortigão.   Desapropriada apenas em 1898, para dar prosseguimento ao reflorestamento que se seguia em outras áreas do Maciço da Tijuca.

Passados mais de 100 anos desde então, vemos que o homem e depois a própria natureza capricharam no trabalho, pois quase nenhum sinal da ocupação humana restou por ali.

Morro do Elefante

O transcarioqueiro sem pressa pode continuar seguindo o caminho sinalizado que vai dando voltas e contornando a floresta de Santa Inês, mas voltei pelo mesmo caminho e no Lajeado adentrei pela difícil e precária trilha velha dos Ciganos, que corta um bom caminho.

Seu início é bem incerto, vai trocando de margem a todo o momento, e até perdi o sinal do GPS, devido à densidade da espessa e escura floresta.  Conforme ganha altitude, o caminho vai ficando um pouco  mais claro.  Continuei subindo mais 1 Km. até que reencontrei a Transcarioca oficial bem adiante, já a caminho do Morro do Elefante.

Subida do Vale de Santa Inês

Neste trecho de 1300 metros, que atravessa muitos riachos, o caminho é bem definido, mas os problemas de mata fechada ainda não ficaram para trás.   Vez ou outra um bambuzal ou outra vegetação retorcida, me obriga a usar o facão.

Ao fim deste trecho, saindo à esquerda da trilha sinalizada, temos o ramal que conduz ao topo do Morro de Elefante.  É preciso muita atenção aí!

Não demora muito ( apenas 100 metros adiante) e temos a trilha que sobe à esquerda para o ataque final ao Morro.

É uma subida curta de 300 metros, que vai passando ao lado de grandes árvores.   É cansativa no início, mas vai suavizando à medida que se aproxima do cume.

O primeiro grande morro do Parque da Tijuca, me deixa boquiaberto com seu mirante de tirar o fôlego, mas essa vista não é nada perto do que veremos em breve do alto de três dos maiores picos da floresta.

Morro do Elefante

Volto pelo mesmo caminho pelo qual subi e retomo a investida para os três gigantes da Floresta.

O misterioso Pico do Andaraí-Maior

Logo no início da subida me deparo com mais um conjunto de ruínas: desta vez bem mais modesto do sítio de Marie Devel, também do século XIX.

A subida é feita por trilha que até bem pouco tempo atrás era muito fechada e sem qualquer sinalização. As melhorias em relação à limpeza, declive e sinalização saltam à vista!

Subida dos Picos

Ao final desta subida, chegamos à encruzilhada das trilhas que conduzem aos picos.   Para o primeiro deles, que é o Andaraí Maior, ande um pouquinho e entre à esquerda.

Encruzilhada das trilhas da floresta

A trilha para o Andaraí-Maior começa seguindo a mesma altitude e tem momentos em que chega até a descer.  Com cerca de 300 metros de caminhada, ela encontra com outra trilha que vem da direita e dá uma grande guinada para a esquerda, acentuando o grau de declividade.

Os metros finais de subida são um pouco mais difíceis, pois o excursionista terá de subir com o apoio das mãos que se apoiam em pedras e raízes.

Chega-se ao topo da montanha, mas o mirante não está lá.

Para vislumbrar a vista espetacular deste pico, temos que continuar pela trilha e descer um pouquinho até chegar à pirambeira de um grande paredão.

Visão do Pico Andaraí Maior

Com 861 metros de altitude, o Pico Andaraí Maior é uma das mais belas montanhas do parque, embora seja pouco conhecido até de seus mais assíduos frequentadores.

Segundo o prof. Carlos Manes Bandeira, muitas histórias místicas giram em torno da montanha.

Há muitos anos atrás, um místico  teria adentrado a Gruta Maior, situado em  sua base,  e vislumbrado lingotes de um metal branco e misterioso, que teria entre suas propriedades a de anular a lei da gravidade.

Ainda segundo o professor, outros grupos mais sensatos, sustentam que a montanha tem “muita força magnética” e, ao nela subirem sentiriam uma atmosfera de templo, com uma sensação de paz indescritível.

Bem, como não apresento estas faculdades especiais, confesso que nas muitas vezes em que subi o Andaraí Maior, nunca senti nada de sobrenatural, com exceção da sensação de paz, que é natural de um lugar pouco frequentado.

Mas o que temos de concreto de todas estas histórias fantásticas?

Bem, em seu frontal voltado para o vale do Elefante, o Andaraí-Maior apresenta a imagem de uma carranca, que atiça a imaginação.

Esculpido pela erosão ou por sabe-se lá quem, há a imagem de um rosto que lembra o de um alienígena.  Essa imagem só é perfeitamente visível de um avião ou do interior do vale do elefante, que é de difícil acesso.

Mas do alto do Morro do Elefante, já temos uma idéia desta imagem.

Carranca do Andaraí-Maior

Bem, colocando os pés de volta ao chão,  vislumbro do alto deste pico meus  próximos destinos: os Picos da Tijuca e Tijuca-Mirim.

Pico da Tijuca foto

Rumo ao Pico Tijuca-Mirim

Desci a curta trilha do Andaraí-Maior e volta àquela encruzilhada de onde parte a subida do Tijuca-Mirim.

Temos agora uma íngreme subida de 300 metros até a base do enorme paredão de rocha que precisa ser contornado.

Venço uma passagem estreita em que é preciso ter um pouco de cuidado, pois fica ao lado de um abismo e continuo subindo, contornando os contrafortes do Pico.

Chegando à serrilha que liga os dois picos, é preciso virar à esquerda para em pouco tempo chegar ao cume do Tijuca-Mirim.

Do alto desta projeção rochosa, temos uma vista espetacular do Rio de Janeiro, que é uma prévia do que veremos em breve do alto do seu irmão maior.

Visão do Pico Tijuca-Mirim

Visão em 360 º do Pico Tijuca-Mirim

Pico da Tijuca

Agora caminharemos por 400 metros pela cumeeira que liga os dois picos. No meio do caminho nos deparamos com a trilha que conduz ao Largo do Bom Retiro.  Mantenha a subida à esquerda.

Em breve chegaremos à base da escadaria de 117 degraus construída em decorrência da visita do imperador Belga Alberto ao pico,  no distante ano de 1928.   Reza a lenda que o imperador, um montanhista experiente, ignorou a escada e subiu pela pedra nua mesmo.

Mas o legado desta obra foi precioso para as gerações futuras, o que contribuiu para que o Pico da Tijuca se tornasse um dos mais acessíveis de todo o parque, se tornando também um dos mais visitados.

Escadaria do Pico da Tijuca

Neste dia, porém devido à longa caminhada, cheguei ao local muito tarde e quase não encontrei ninguém na trilha.

Com 1022 mts. de altitude, o Pico da Tijuca é o segundo ponto mais alto de todo o Município, perdendo apenas para o Pico da Pedra Branca, apenas 2 metros mais alto.

Visão em 360 º do Pico da Tijuca

Seja pela sua altitude, seja pela localização, o pico da Tijuca tem uma das vistas mais espetaculares de toda a Transcarioca, sendo listado no meu último TOP 5 melhores vistas.

Panorama do Pico da Tijuca

É difícil dizer algum ponto do Rio ou do Grande Rio, que não seja abarcado pela sua visão, que num giro de 360 º abarca o Centro da Cidade, Niterói, Serra da Carioca, Lagoa Rodrigo de Freitas, Ipanema, Morro Dois Irmãos, Pedra da Gávea, Barra da Tijuca, Recreio, Jacarepaguá, Maciço da Pedra Branca, Bangu, Baixada Fluminense, Zona Norte e seus incontáveis bairros, Ilhas do Governador e Fundão, Baia de Guanabara, São Gonçalo, Ponte Rio-Niterói, Maracanã e Tijuca.

Baia de Guanabara a partir do Pico da Tijuca

No pico encontro um marco indicando o ponto mais alto do Pico e à sua frente um oportuno e simpático quati, se aproveitando da calma para comer em paz os restos de comida deixados pelos excursionistas.

Quati no pico

Depois de apreciar mais um pôr-do Sol, desço para finalizar este dia tão intenso da Transcarioca.

Descida do Pico da Tijuca

Como já estava quase anoitecendo, na descida tomei uma trilha expressa, que sai escondida um pouco depois do fim da escadaria.

É uma trilha pouco definida e um pouco perigosa, mas que eu não tinha muito com o que me preocupar, já que estava acompanhado de minha lanterna potente.

Este atalho em princípio desce escondido em meio à relva. É um caminho meio incerto onde é preciso ficar muito atento para não errar o caminho, além de que passa ao largo de alguns precipícios, o que faz desta descida alternativa pouco indicada para os mais inexperientes.   Para estes, é aconselhável descer pela trilha sinalizada.

Mas é uma descida muito bonita em meio à vegetação rasteira, proporcionando vistas incríveis, além de que corta um bom caminho!

Descida do vale do sombrio

A trilha busca o vale do sombrio, adentrando uma área de mata muito fechada. Depois a situação melhora com a trilha sempre acompanhando o contraforte do pico, que fica à direita o tempo todo. Em alguns momentos é possível até encostar as mãos no paredão gigantesco.

Descida do Pico da Tijuca

Depois de 600 metros de descida, a trilha passa pela picada do costão do Pico, que sobe à direita.  É possível até que passe completamente desapercebida.

Então continue a descida, a trilha vai fazendo uma curva à direita até sair numa curva da trilha principal bem próxima de seu início.   Siga à esquerda caminhando no plano por cerca de 400 metros até encontrar o cruzamento com a trilha do Bico do Papagaio.

Na próxima postagem irei descrever o longo trajeto que se iniciará a partir daqui.

Desça à esquerda pelo sinuoso trecho que leva até o Largo do Bom Retiro, onde podemos encontrar banheiros, água potável e bancos para descansar.

Do Largo do Bom Retiro até a saída principal do Parque, temos mais ou menos cinquenta minutos de caminhada ainda.

E assim termino este longo e intenso dia da Transcarioca.

Download do tracklog da trilha.

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Download do mapa da rota oficial do trecho 11 da Transcarioca

5 thoughts to “Pico da Tijuca, Tijuca-Mirim e Andaraí-Maior via Ciganos(11º dia da Trancarioca)”

  1. SENSACIONAL !
    Minha família nasceu nessas terras por onde vc passaste. Meu pai nasceu na casa que fica na Represa dos Ciganos. Meu avô e meus tios avós eram guardas florestais e funcionários da CEDAE. Meu velho ainda vivo conhece essa trilha como ninguém. Já percorri uma vez com ele um trecho dela mas em virtude da violência urbana desistimos de retornar mas ao ver este site fiquei novamente animado. Grande abraço !

  2. Oieeeee – saudações! Essa trilha (alternativa) qual vc se refere,é o chamado Costão(do Pico da Tijuca). Realmente além de ser compactada tem-se uma visão magnífica do Paredão Marumbi.Inclusive logo no início (uns 200ms) tem-se um corta-caminho com um lance de escalada de 1° grau.Fiz duas vezes essa trilha com um guia Domício(do CEB) há 50 anos.

  3. Saudações!
    Também conheço a trilha do Costão do Pico da Tijuca, mas essa que descrevi no artigo é a trilha do Vale do Sombrio, que desce pelo outro lado e não é tão perigosa, sendo desnecessário o uso de cordas.
    Obrigado por seu comentário!

  4. Bom dia!

    Acho que o seu é o melhor relato de todos que estão na Internet em relação a esse trecho. Parabéns!

    Subi correndo a partir da entrada no Cardoso Fontes, cheguei a represa dos Ciganos, peguei a sinalização a esquerda e fui pelo morro. Desci mais uma vez até o leito do rio e depois de passar por algumas pedras voltei a trilha por um breve tempo e depois desce até o leito do rio mais uma vez. Agora não encontrei o prosseguimento da trilha, tentei atravessar o rio pra ver se era do outro lado, levei até um tombo na pedra e não achei. Será que segue um pouco pelo leito do rio, me pareceu muito fechado a mata nessa parte e o barranco não é nada fácil de subir.

    Desisti por hora, mas queria saber se tem alguma dica pra ajudar.

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